CAPÍTULO VIII
Unidade de ação
O que dá unidade à fábula não é, como pensam alguns, apenas a presença de uma personagem principal;
no decurso de uma existência produzem-se em quantidade infinita muitos acontecimentos, que não
constituem uma unidade. Também muitas ações, pelo fato de serem realizadas por um só agente, não
criam a unidade.
2. Daí parece que laboram no erro todos os autores da Heracleida, da Teseida(28) e de poemas análogos,
por imaginarem bastar a presença de um só herói, como Heracles, para conferir unidade à fábula.
3. Mas Homero, que nisto como em tudo é o que mais se salienta, parece ter enxergado bem este ponto,
quer por efeito da arte, quer por engenho natural, pois, ao compor a Odisséia, não deu acolhida nela a
todos os acontecimentos da vida de Ulisses, como, por exemplo, a ferida que recebeu no Parnaso ou a
loucura que simulou no momento da reunião do exército(29); não era necessário, nem sequer verossímil
que, pelo fato de um evento ter ocorrido, o outro houvesse de ocorrer. Em torno de uma ação única,
como dissemos, Homero agrupou os elementos da Odisséia e fez outro tanto com a Ilíada.
4. Importa pois que, como nas demais artes miméticas, a unidade da imitação resulte da unidade do
objeto. Pelo que, na fábula, que é imitação de uma ação, convém que a imitação seja una e total e que as
partes estejam de tal modo entrosadas que baste a supressão ou o deslocamento de uma só, para que o
conjunto fique modificado ou confundido, pois os fatos que livremente podemos ajuntar ou não, sem que
o assunto fique sensivelmente modificado, não constituem parte integrante do todo.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Unidade de ação
Postado por Poetray às 15:53
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