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Frases Eternas

Filósofos & Poetas

domingo, 25 de novembro de 2007

IV
Sobre a alma e nossas ignorâncias
Fundado nos conhecimentos adquiridos, nos temos atrevido a questionar se a
alma se criou antes que nós, se chega do nada a introduzir-se em nosso corpo, a
que idade vem colocar-se entre uma bexiga e os intestinos, se ali recebe o aporte
algumas idéias, e que idéias são estas; se depois de animar-nos alguns
momentos, sua essência, logo que o corpo morre, vive na eternidade; se sendo
espírito, o mesmo que Deus, é diferente deste ou é semelhante. Essas questões
que parecem sublimes, como dizemos, são as questões que entabulam os cegos
de nascimento respeito da luz.
O que nos tem ensinado os filósofos antigos e os modernos? Nos tem ensinado
que uma criança é mais sábia que eles, porque este só pensa não que pode
conseguir. Até agora a natureza dos primeiros princípios é um segredo do Criador.
Em que consiste que os ares arrastam os sons? Como é que alguns de nossos membros obedecem constantemente a nossa vontade? Que ma é a que coloca as idéias na memória, as conserva ali como em um registro e as saca quando queremos e também quando não queremos? Nossa natureza, a do universo e a das plantas, estão escondidas em um abismo de trevas. O homem é um ser que obra, que sente e pensa: é isso o todo que sabemos; porém ignoramos o que nos faz pensar, sentir e obrar. A faculdade de obrar é tão incompreensível para nós como a faculdade de pensar. É menos difícil conceber que o corpo de barro tenha sentimentos e idéias que conceber que um ser tenha idéias e sentimentos. Compara a alma de Arquimedes com a alma de um imbecil: são as duas de uma mesma natureza? Se é essencial o pensar, pensarão sempre com independência do corpo, que não poderá obrar sem elas; se pensam por sua própria natureza, será da mesma espécie a alma que não pode compreender uma regra de aritmética, que a alma que mediu os céus? Se os órgãos corporais fazem pensar a Arquimedes, por que um idiota, melhor constituído e mais vigoroso que Arquimedes, dirigindo melhor e desempenhando com mais perfeição as funções corporais, não pensa? A isto se contesta que seu cérebro não é tão bom; porém isso é uma suposição, porque os que assim contestam não sabem. Não se encontrou nunca diferença alguma nos cérebros dissecados; e é ademais verossímil que o cerebelo de um tonto se encontre em melhor estado que o de Arquimedes, que o usou e o fatigou prodigiosamente.
Deduzamos, pois, disto o que antes deduzimos, que somos ignorantes ante os primeiros princípios.

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