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Filósofos & Poetas

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Conselhos aos poetas sobre a composição das tragédias

CAPÍTULO XVII
Conselhos aos poetas sobre a
composição das tragédias

Quando o poeta organiza as fábulas e completa sua obra compondo a elocução das personagens, deve, na
medida do possível, proceder como se ela decorresse diante de seus olhos, pois, vendo as coisas
plenamente iluminadas, como se estivesse presente, encontrará o que convém, e não lhe escapará
nenhum pormenor contrário ao efeito que pretende produzir.
2. A prova está nesta crítica feita a Cárnico (56): Anfiarau(57) saía do templo; escapou este pormenor ao
poeta, porque não olhava a cena como espectador, mas foi o bastante para a peça cair no desagrado, pois
os espectadores se indignaram.
3. Na medida do possível, é importante igualmente completar o efeito do que se diz pelas atitudes das
personagens.
Em virtude da nossa natureza comum, são mais ouvidos os poetas que vivem as mesmas paixões de suas
personagens; o que está mais violentamente agitado provoca nos outros a excitação, da mesma forma que
suscita a ira aquele que melhor a sabe sentir.
4. Por isso a poesia exige ânimos bem dotados ou capazes de se entusiasmarem: os primeiros têm
facilidade em moldar seus caracteres, não sentem dificuldade em se deixarem arrebatar.
5. Quanto aos assuntos, quer tenham sido já tratados por outros, quer o poeta os invente, convém que ele
primeiro faça dos mesmos uma idéia global, e que em seguida distinga os episódios e os desenvolva.
6. Eis o que entendo por "fazer uma idéia global": por exemplo, a propósito de Ifigênia. Uma donzela,
prestes a ser degolada durante um sacrifício, foi tirada dos sacrificadores, sem estes darem pelo fato; e
transportada a outra região onde uma lei ordenava que os estrangeiros fossem imolados à deusa; e a
donzela foi investida nesta função sacerdotal. Passado algum tempo, o irmão da sacerdotisa chega àquela
região, e isto ocorre porque o oráculo do deus lhe prescrevera que se dirigisse àquele lugar, por motivo
Arte Poética - Aristóteles
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alheio à história e ao entrecho dramático da mesma. Chegando lá, ele é feito prisioneiro; mas quando ia
ser sacrificado, deu-se a conhecer (quer como explica Eurípides, quer segundo a concepção de Políido,
declarando naturalmente que não somente ele, mas também sua irmã devia ser oferecida em sacrifício) e
com estas palavras se salvou.
7. Após isto, e uma vez atribuídos nomes às personagens,
8. Importa tratar os episódios, tendo o cuidado de bem os entrosar no assunto, como, no caso de Orestes,
a crise de loucura, que provocou sua prisão, e o plano de purificá-lo, que causou sua salvação.
9. Nos poemas dramáticos os episódios são breves, mas baseando-se neles, a epopéia assume proporções
maiores.
10. De fato, o assunto da Odisséia é de curtas dimensões. Um homem afastado de sua pátria pelo espaço
de longos anos e vigiado de perto por Poseidon acaba por se encontrar sozinho; sucede, além disso, que
em sua casa os bens vão sendo consumidos por pretendentes que ainda por cima armam ciladas ao filho
deste herói; depois de acossado por muitas tempestades, ele regressa ao lar, dá-se a conhecer a algumas
pessoas, ataca e mata os adversários e assim consegue salvar-se. Eis o essencial do assunto. Tudo o mais
são episódios.

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