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Filósofos & Poetas

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Das qualidades da fábula em relação às personagens

CAPÍTULO XIII
Das qualidades da fábula em relação às
personagens.
Do desenlace
Que fim devem ter os poetas em mira ao organizarem suas fábulas, que obstáculos deverão evitar, que
meios devem ser utilizados para que a tragédia surta seu efeito máximo, é o que nos resta expor, depois
Arte Poética - Aristóteles
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das explicações precedentes.
2. A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos
fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão (pois é essa a característica deste
gênero de imitação). Em primeiro lugar, é óbvio não ser conveniente mostrar pessoas de bem passar da
felicidade ao infortúnio (pois tal figura produz, não temor e compaixão, mas uma impressão
desagradável);
3. Nem convém representar homens maus passando do crime à prosperidade (de todos os resultados, este
é o mais oposto ao trágico, pois, faltando-lhe todos os requisitos para tal efeito, não inspira nenhum dos
sentimentos naturais ao homem – nem compaixão, nem temor);
4. nem um homem completamente perverso deve tombar da felicidade no infortúnio (tal situação pode
suscitar em nós um sentimento de humanidade, mas sem provocar compaixão nem temor). Outro caso
diz respeito ao que não merece tornar-se infortunado; neste caso o temor nasce do homem nosso
semelhante, de sorte que o acontecimento não inspira compaixão nem temor.
5. Resta, entre estas situações extremas, a posição intermediária: a do homem que, mesmo não se
distinguindo por sua superioridade e justiça, não é mau nem perverso, mas cai no infortúnio em
conseqüência de algum erro que cometeu; neste caso coloca-se também o homem no apogeu da fama e
da prosperidade, como Édipo ou Tiestes ou outros membros destacados de famílias ilustres.
6. Para que uma fábula seja bela, é portanto necessário que ela se proponha um fim único e não duplo,
como alguns pretendem; ela deve oferecer a mudança, não da infelicidade para a felicidade, mas, pelo
contrário, da felicidade para o infortúnio, e isto não em conseqüência da perversidade da personagem,
mas por causa de algum erro grave, como indicamos, visto a personagem ser antes melhor que pior.
7.O recurso usado atualmente pelos que compõem tragédias assim o demonstra: outrora os poetas
serviam-se de qualquer fábula; em nossos dias, as mais belas tragédias ocupam-se de um muito reduzido
número de famílias, por exemplo, das famílias de Alcméon(38), Édipo, Orestes, Meleagro(39), Tiestes,
Télefo(40), e outros personagens idênticos, que tiveram de suportar ou realizar coisas terríveis.
8. Esta é, segundo a técnica peculiar à tragédia, a maneira de compor uma peça muito bela.
9. Por isso, erram os críticos de Eurípides(41), quando o censuram por assim proceder em suas tragédias,
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que na maioria das vezes terminam em desenlace infeliz. Como já dissemos, tal concepção é justa.
10. A melhor prova disto é a seguinte: em cena e nos concursos, as peças deste gênero são as mais
trágicas, quando bem conduzidas; e Eurípides, embora falhe de vez em quando contra a economia da
tragédia, nem por isso deixa de nos parecer o mais trágico dos poetas.
11. O segundo modo de composição, que alguns elevam à categoria de primeiro, consiste numa dupla
intriga, como na Odisséia, onde os desenlaces são opostos: há um para os bons, outro para os maus.
12. Esta última categoria é devida à pobreza de espírito dos espectadores, pois os poetas limitam-se a
seguir o gosto do público, propiciando o que ele prefere.
13. Não é este o prazer que se espera da tragédia; ele é mais próprio da comédia, pois nesta as pessoas
que são inimigas demais na fábula, como Orestes e Egisto(42), separam-se como amigos no desenlace, e
nenhum recebe do outro o golpe mortal.

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