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Filósofos & Poetas

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Como se deve apresentar o que é falso

CAPÍTULO XXV
Como se deve apresentar o que é falso
Sem dúvida, Homero é por muitas razões digno de elogio; e a principal delas é o fato dele ser, entre os
poetas, o único que faz as coisas como elas devem ser feitas.
2. O poeta deve dialogar com o leitor o menos possível, pois não é procedendo assim que ele é imitador.
Os poetas que não Homero, pelo contrário, ao longo do poema procedem como atores em cena, imitam
pouco e raramente; ao passo que Homero, após curto preâmbulo, introduz imediatamente um homem,
uma mulher ou outro personagem, e nenhum carece de caráter, e de cada um são estudados os costumes.
3. Nas tragédias, é necessária a presença do maravilhoso, mas na epopéia pode-se ir além e avançar até o
irracional, através do qual se obtém este maravilhoso no grau mais elevado, porque na epopéia nossos
olhos não contemplam espetáculo algum.
4. A perseguição de Heitor, levada à cena, mostrar-se-ia inteiramente ridícula: "uns imóveis e que não
perseguem, e o outro (Aquiles) que lhes acena com a cabeça negativamente". Numa narrativa, esses
detalhes estranhos passam desapercebidos.
5. Ora, o maravilhoso agrada, e a prova está em que todos quantos narram alguma coisa acrescentam
pormenores imaginários, com intuito de agradar.
6. Homero foi também quem ensinou os outros poetas como convém apresentar as coisas falsas.
Refiro-me ao paralogismo. Eis como os homens pensam: quando uma coisa é, e outra coisa também é,
ou, produzindo-se tal fato, tal outro igualmente se produz, se o segundo é real, o primeiro também é real,
ou se torna real. Ora, isto é falso. Daí se imagina que, se o antecedente é falso, mas mesmo assim a coisa
existe ou vem a se produzir, estabelece-se uma ligação entre antecedente e conseqüente: sabendo que o
segundo caso é verdadeiro, nosso espírito tira a conclusão falsa de que o primeiro também o seja. Disso
temos exemplo no episódio do Banho.
7. É preferível escolher o impossível verossímil do que o possível incrível,
8. E os assuntos poéticos não devem ser constituídos de elementos irracionais, neles não deve entrar nada
de contrário à razão, salvo se for alheio à peça, como no caso de Édipo ignorante das circunstâncias da
morte de Laio; e nunca dentro do próprio drama, como na Electra, onde se fala nos Jogos Píticos(66) e
nos Mísios, onde um personagem vem de Tegéia até Mísia, sem proferir palavra.
9. Seria ridículo pretender que a fábula não se sustentaria sem isso. Antes de mais nada, não se deveriam
compor fábulas desse gênero; mas, se há poetas que as fazem e de maneira que pareçam ser razoáveis,
pode-se introduzir nelas o absurdo, pois o passo inverossímil da Odisséia, que trata do desembarque (de
Ulisses pelos feaces), não seria tolerável, se fosse redigido por um mau poeta. Mas, em nosso caso, o
poeta dispõe de outros méritos que lhe possibilitam mascarar o absurdo por meio de subterfúgios.
11. Quanto à elocução, deve ser muito acurada só nas partes de ação com menos movimento, que não
ostentam nem estudos de caracteres, nem pensamentos; um estilo demasiado fulgurante, exibido em toda
a peça, deixaria na sombra os caracteres e o pensamento.

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