CAPÍTULO XVIII
Nó, desenlace; tragédia e epopéia; o
Coro
Em todas as tragédias há o nó e o desenlace. O nó consiste muitas vezes em fatos alheios ao assunto e em
alguns que lhe são inerentes; o que vem a seguir é o desenlace.
2. Dou o nome de nó à parte da tragédia que vai desde o início até o ponto a partir do qual se produz a
mudança para uma sorte ditosa ou desditosa; e chamo desenlace a parte que vai desde o princípio desta
mudança até o final da peça.
Arte Poética - Aristóteles
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3. Por exemplo, no Linceu de Teodectes, o nó abarca todos os fatos iniciais, incluindo o rapto da criança
e além disso... o desenlace vai desde a acusação de assassinato até o fim.
4. Há quatro espécies de tragédias, correspondentes ao número dos quatro elementos.
5. Uma complexa, constituída inteiramente pela peripécia e o reconhecimento...
6. A outra, a peça patética, do tipo de Ajax(58) e de Íxion(59);
7. a tragédia de caracteres, como Ftiótidas(60) e Peleu(61);
8. A quarta... como as Fórcidas e Prometeu e todas as que se passam no Hades.
9. Seria conveniente que os poetas se esforçassem ao máximo para possuir todos os méritos, ou pelo
menos os mais importantes e a maior parte deles, atendendo principalmente as severas críticas de que são
alvo em nossos dias; como houve poetas que se distinguiram neste ou naquele elemento essencial,
exige-se de um só autor que supere seus próprios méritos em relação aos daqueles outros poetas.
10. É justo dizer que uma tragédia é semelhante a outra ou diferente dela, não só no argumento, mas
também no nó e no desenlace.
11. Muitos tecem bem a intriga, mas saem-se mal no desenlace; no entanto, para ser aplaudido, é
necessário conjugar os dois méritos.
12. Importa não esquecer o que muitas vezes tenho dito: não compor uma tragédia como se compõe uma
obra épica; entendo por épica a que enfeixa muitas fábulas, por exemplo, como se alguém quisesse
incluir numa tragédia todo o assunto da Ilíada.
13. A extensão inerente a este gênero de poema permite dar a cada parte as dimensões convenientes,
sistema este que, na arte dramática, seria contra a expectativa.
14. A prova em que todos os que se propuseram a representar por inteiro a ruína de Tróia, e não apenas
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parcialmente, como fez Eurípedes, ou toda a história de Niobe, em vez de fazerem como Ésquilo, ou
fracassam ou são mal colocados no concurso; falhou apenas por este motivo a peça de Agatão.
15. Mas nas peripécias e nas ações simples, os poetas alcançam maravilhosamente o fim que se propõe
alcançar, a saber, a emoção trágica e os sentimentos de humanidade.
16. Assim acontece quando um homem hábil mas perverso é enganado como Sísifo, ou quando um
homem corajoso mas injusto é derrotado.
17. Isto é verossímil, explica-nos Agatão, pois é verossímil que muitos acontecimentos se produzam,
mesmo contra toda verossimilhança.
18. O coro deve ser considerado como um dos atores; deve constituir parte do todo e ser associado à
ação, não como em Eurípedes, mas à maneira de Sófocles.
19. Na maioria dos poetas, os cantos corais referem-se tanto à tragédia, onde se encontram, como a
qualquer outro gênero; por isso constituem uma espécie de interlúdio, cuja origem remonta a Agatão.
Ora, existirá diferença entre cantar interlúdios e transferir de uma peça para outra um trecho ou um
episódio completo?
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Nó, desenlace; tragédia e epopéia; o Coro
Postado por Poetray às 16:13
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