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Filósofos & Poetas

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Superioridade da tragédia sobre a epopéia

CAPÍTULO XXVII
Superioridade da tragédia sobre a
epopéia
Poder-se-ia perguntar qual das duas é superior à outra, se a imitação épica ou a trágica.
2.Com efeito, se a menos vulgar é a melhor, e se é sempre esta a que se dirige aos melhores espectadores,
a que se propõe imitar tudo seria por conseguinte a mais vulgar.
3. Os atores em cena, julgando que o público seria incapaz de sentir caso eles não acrescentassem a
interpretação ao texto escrito, às vezes multiplicam os movimentos, semelhando os maus tocadores de
flauta que rebolam a fim de imitar o lançamento do disco, ou que arrastam o corifeu, quando
acompanham com seu instrumento a representação do Cila.
4. As críticas que os antigos atores dirigem a seus sucessores, deveriam aplicar-se à tragédia. Assim,
Minisco tratava Calípides de macaco, por causa da gesticulação forçada demais. O mesmo se dizia de
Píndaro. Estes últimos são, assim, em relação aos primeiros, o que toda a arte trágica é em relação à
epopéia.
5. Esta, segundo se diz, é feita para um público de bom gosto, que não precisa de toda aquela
gesticulação, ao passo que a tragédia se destina ao vulgo; e se a tragédia tem algo de banal,
manifestamente é de qualidade inferior.
6. Em primeiro lugar, esta crítica não vai endereçada contra a arte do poeta, mas sim contra a do ator,
pois que até o rapsodo pode levar a imitação ao ponto de se servir de gestos, como fazia Sosístrato, ou
mesmo entremeá-la com o canto, como Mnasíteo de Oponte.
7. Em seguida, não devemos condenar toda gesticulação, nem toda dança, mas só a dos maus
executantes, como era censurado Calípides e em nossos dias o são alguns outros, por imitarem mulheres
de condição servil.
8. Acresce que a tragédia, mesmo não acompanhada da movimentação dos atores, produz seu efeito
próprio, tal como a epopéia, pois sua qualidade pode ser avaliada apenas pela leitura. Portanto, se ela é
superior em tudo o mais, não é necessário que o seja neste particular.
9. Em seguida, ela contém todos os elementos da epopéia;
10. com efeito, a tragédia pode utilizar o metro desta última, e, além disso — o que não é de pouca importância — dispõe da música e do espetáculo, que concorrem para gerar aquele prazer mais intenso
que lhe é peculiar.
11. Além disso, sua clareza permanece intacta, tanto na leitura quanto na representação.
12. E mais: com extensão menor que a da epopéia, mesmo assim ela atinge seu objetivo, que é imitar;
ora, o que é mais concentrado proporciona maior prazer do que o diluído por longo espaço de tempo –
pensemos no que seria o Édipo tratado no mesmo número de versos que a Ilíada!
13. Além do mais, a imitação em qualquer epopéia apresenta menor unidade que na tragédia. A prova é
que, de qualquer imitação épica se extraem vários argumentos de tragédia, de modo que, se o poeta em
sua epopéia trata uma só fábula, ela será exposta de modo forçosamente breve, e resultará bem
mesquinha, ou então, conformando-se às dimensões habituais do gênero, resultará prolixa. Mas se trata
muitas fábulas, ou seja, se a obra é constituída por muitas ações, carece de unidade.
14. Por exemplo, a Ilíada comporta muitas partes deste gênero, bem como a Odisséia, partes que em si
são extensas, e no entanto estes poemas formam um todo da maneira mais perfeita e constituem, no mais
alto grau, a imitação de uma arte única.
15. Portanto, se a tragédia se distingue por todas estas vantagens e mais pela eficácia de sua arte (ela
deve proporcionar, não um prazer qualquer, mas o que é por nós indicado), é evidente que, realizando
melhor sua finalidade, ela é superior à epopéia.
16. Falamos sobre a tragédia e sobre a epopéia, sobre a natureza e espécie das mesmas, sobre seus
elementos essenciais, número e diferença dos mesmos, sobre as causas que as tornam boas ou más, enfim
sobre as críticas e os efeitos que provocam.

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